terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Sobre dons desperdiçados



Ultimamente, tenho considerado muito a respeito dos erros que cometi na vida, não para me lamentar sobre eles, mas para nortear melhor a vida que ainda tenho. Olha, a gente se surpreende com a quantidade de atitudes e decisões que tivemos no passado e que agora se revelaram, digamos, desastrosas - talvez essa seja uma palavra muito forte e talvez eu a reveja até o final dessa conversa. Sim, as consequências que vivemos e o afastamento no tempo nos fazem ver melhor o quanto fomos imprudentes ou assertivos em outros momentos da vida. E isso é muito interessante, pois também entendemos que são essas mesmas atitudes e decisões que nos levam aos bons resultados que temos, pois a vida não é feita apenas de consequências ruins. Bugou? Eu também. Isso é confortável ou não? É o que estou tentando responder, por isso estou escrevendo, porque procuro algumas respostas.


Todos os dias, eu me coloco aqui, na frente do meu computador e fico pensando em muitas coisas, anotando ideias que me vem à cabeça. Tento trabalhar cada uma dessas ideias, leio e releio o que escrevo e acho que nunca nada disso vai interessar seja lá a quem for. Na verdade, mesmo tendo o dom de escrever, considero que tal dom foi desperdiçado em mim. Considerar que se tem um dom desinteressante é doentio, eu sei. Todo dom é interessante. Talvez o que faça um dom ser desperdiçado é o que fazemos ou deixamos de fazer com ele. No meu caso, não escrever é algo que definitivamente desperdiça o dom que recebi. Não desenvolver tal dom é uma escolha dolorosa e torna o desperdício algo ainda mais pesaroso.


Conheço muitos escritores, já li muitos livros e admiro aquelas pessoas que criam para sim um mundo mágico que extrapola limites e cai no imaginário popular, criando legiões de fãs mundo afora. J.K Rowling, J.R.R Tolkien, C.S Lewis, são exemplos de escritores que não desperdiçaram o seu dom. Eu seria capaz de um feito como o deles? Boa pergunta, que não tem uma boa ou uma má resposta. Eu poderia escrever sobre bruxas e bruxos, sobre dragões, sobre pessoas excepcionais, sobre o que quisesse, mas duvido que criaria algo novo. Tão pouco eles criaram, na verdade, cada um deles baseou suas obras em outras experiências e estórias que leram e ouviram durante suas vidas. Eles apenas foram capazes de dar um novo significado a tudo isso, em outras palavras, usaram da sua imaginação para mesclar o que sabiam com o que sentiam e inovaram a arte de escrever.


Sobre a arte de escrever, talvez, neste momento, eu esteja inovando o meu mundo particular ao fazer uma leitura muito pessoal do meu dom e do que não tenho feito com ele. E você, qual dom você tem e não aprimora ou usa para si e para o outro? Se eu exercer o meu dom, serei capaz de motivar alguém a também exercer o seu? Nunca saberei se não começar. Os escritores que citei e muitos outros que li não foram capazes de me motivar ainda, portanto, julgo que pensar em motivar alguém seja presunção minha e algo que não cabe no atual momento da minha história, mas foi um pensamento que me ocorreu enquanto escrevo. Será que motivar pessoas foi algo que eles também pensaram?


Se o que quero escrevendo é colocar minhas ideias em dia e entender melhor quem sou, dando respostas às perguntas de uma vida, sinto me informar que esse início está tornando as coisas muito mais confusas. E tal confusão me faz pensar que tenho muito trabalho pela frente comigo mesma, então, talvez seja improdutivo pensar no outro agora. Sendo assim, a primeira resposta elaborada é: eu sou minha primeira missão, é a mim que devo atingir com o que escrevo e me motivar a escrever mais. Serei como um hamster numa roda, fazendo perguntas e criando respostas. Quem sabe assim, um dia, alguém encontre tudo isso e ache sentido no meu trabalho.


A conclusão de tudo o que escrevi até aqui é a de que sim, errei muito ao não escrever durante toda a minha vida. Não, não pretendo me lamentar sobre isso. Sim, quero agora exercer e aprimorar o meu dom, mas não sei se tentarei escrever algo tão grandioso quanto o que já li na minha vida. Até porque, no meu entender, essa é uma tarefa que se decide fazer, pelo menos não conscientemente. Ela vai acontecendo e nos surpreendendo em primeiro lugar, depois, aos poucos, vai surpreendendo aos outros.


 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Uma mulher sempre sabe o que fazer.


Uma mulher sempre sabe o que fazer, foi o que ouvi uma vez de um rapaz que estava logo atrás de mim na fila do self service. Foi na hora do almoço no trabalho, que era sempre corrido quando recebíamos alunos. Trabalhei numa das Escolas de Governo, em Brasília. A fila andava depressa e o rapaz não tirava os olhos da cuba de arroz logo a nossa frente. O arroz estava mexido, a cuba já pela metade, e um pouco embolorado. Não havia a esperança de que um arroz novo e quentinho viesse da cozinha até que chegasse a nossa vez de servir os pratos. Foi então que eu cheguei à cuba, peguei a colher de servir, amassei as bolas de arroz, mexi de um lado para o outro misturando bem e deixei tudo com uma cara mais amigável. Foi quando ouvi, num tom de alívio, a frase que lembro toda vez que me encontro em situações difíceis: uma mulher sempre sabe o que fazer.

Hoje, passados muitos anos desde que isso aconteceu, talvez já quase duas décadas, tenho um questionamento constante que me leva quase a discordar de tal afirmação, pois não me sinto tão capaz assim de encontrar respostas ou soluções para todos os problemas da vida. Com certeza sou uma mulher, mas não tenho super-poderes, não tenho o dom de saber o que devo fazer. Na verdade, sequer tenho certeza se o que faço é certo. A certeza que tenho é que errei muito e reconheço as consequências da minha diversificada lista de erros nos dias que vivo hoje.

Estou me lamentando? Claro que não. Estou apenas fazendo uma revisão da minha história, afinal, já estou nos meados dos meus cinquentas anos e todos os dias me deparo com o maroto pensamento de quanto tempo ainda tenho para viver. Não me perguntava isso aos trinta ou aos quarenta anos. Essas foram décadas que passaram sem uma percepção próxima da extinção. Os cinquenta por sua vez trouxeram essa novidade, mas isso não é motivo para angústia ou tristeza. Na verdade, é motivo de contemplação e de otimização do tempo de vida que ainda me resta. Afinal, em qualquer tempo da vida é preciso viver da melhor forma que podemos. É preciso aproveitar ao máximo e fazer paradas estratégicas que evitem derrapagens ou paradas muito longas da nossa história, aquela história que contamos de nós para nós mesmos ou para quem nos rodeia. A história de vitórias, superações e boas recordações, ou a história das perdas, dos deslizes e das decepções que julgamos no levaram a um ocaso menos feliz.

Voltando ao dia de hoje, 26 de janeiro de 2022, enquanto ainda construo uma outra lista, a das lembranças que quem me rodeia terá de mim, quando eu ainda estiver nos porta-retratos da família, como uma lembrança prestes a desaparecer, pela decisão de alguém que guardará tal retrato num álbum e tal álbum numa caixa, num canto escuro de um armário. No dia de hoje, considero o que posso fazer para ser a mulher que sempre sabe o que fazer e que não desperdice os dias de vida que ainda tem, que espero sejam muitos, que sejam longos e que, acima de tudo, sejam felizes.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Quem sou

Defina-me na sua vida,
Somente você pode me dizer quem sou.
Não saber me angustia.
Mas não ouvir de você torna minha existência confusa.
Confusão já me define,
Porém, não quero essa palavra,
Ela não me basta,
Ela não me alivia.
Preciso de alívio.
Do alívio que vem da certeza.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Conforto

Deus criou o veludo
Para fazer o pelo dos gatos.

Gato

Comida no prato,
Água na lata.
Mão na cabeça
E eu ronrono.
E o meu humano, esse bobo,
Ah, ele se derrete todo.

Fonte

Algumas vezes isto vem como em pequenas gotas.
Noutras, a fonte seca.
Às vezes quando a alma escurece.
Outras, quando no sol resplandece.
Não me pergunte como,
Não me confunda.
Porque assim talvez a fonte
Para sempre seque.

Coração e Mente

Hoje meu coração está mais presente
Que minha mente ausente.
Hoje a fala divaga
E o coração mente.
Mas somente hoje,
Pois em mim, quem fala é o coração.
Minha mente?
Essa apenas vaga.

Sobre dons desperdiçados

Ultimamente, tenho considerado muito a respeito dos erros que cometi na vida, não para me lamentar sobre eles, mas para nortear melhor a vid...