Ultimamente, tenho considerado muito a respeito dos erros que cometi na vida, não para me lamentar sobre eles, mas para nortear melhor a vida que ainda tenho. Olha, a gente se surpreende com a quantidade de atitudes e decisões que tivemos no passado e que agora se revelaram, digamos, desastrosas - talvez essa seja uma palavra muito forte e talvez eu a reveja até o final dessa conversa. Sim, as consequências que vivemos e o afastamento no tempo nos fazem ver melhor o quanto fomos imprudentes ou assertivos em outros momentos da vida. E isso é muito interessante, pois também entendemos que são essas mesmas atitudes e decisões que nos levam aos bons resultados que temos, pois a vida não é feita apenas de consequências ruins. Bugou? Eu também. Isso é confortável ou não? É o que estou tentando responder, por isso estou escrevendo, porque procuro algumas respostas.
Todos os dias, eu me coloco aqui, na frente do meu computador e fico pensando em muitas coisas, anotando ideias que me vem à cabeça. Tento trabalhar cada uma dessas ideias, leio e releio o que escrevo e acho que nunca nada disso vai interessar seja lá a quem for. Na verdade, mesmo tendo o dom de escrever, considero que tal dom foi desperdiçado em mim. Considerar que se tem um dom desinteressante é doentio, eu sei. Todo dom é interessante. Talvez o que faça um dom ser desperdiçado é o que fazemos ou deixamos de fazer com ele. No meu caso, não escrever é algo que definitivamente desperdiça o dom que recebi. Não desenvolver tal dom é uma escolha dolorosa e torna o desperdício algo ainda mais pesaroso.
Conheço muitos escritores, já li muitos livros e admiro aquelas pessoas que criam para sim um mundo mágico que extrapola limites e cai no imaginário popular, criando legiões de fãs mundo afora. J.K Rowling, J.R.R Tolkien, C.S Lewis, são exemplos de escritores que não desperdiçaram o seu dom. Eu seria capaz de um feito como o deles? Boa pergunta, que não tem uma boa ou uma má resposta. Eu poderia escrever sobre bruxas e bruxos, sobre dragões, sobre pessoas excepcionais, sobre o que quisesse, mas duvido que criaria algo novo. Tão pouco eles criaram, na verdade, cada um deles baseou suas obras em outras experiências e estórias que leram e ouviram durante suas vidas. Eles apenas foram capazes de dar um novo significado a tudo isso, em outras palavras, usaram da sua imaginação para mesclar o que sabiam com o que sentiam e inovaram a arte de escrever.
Sobre a arte de escrever, talvez, neste momento, eu esteja inovando o meu mundo particular ao fazer uma leitura muito pessoal do meu dom e do que não tenho feito com ele. E você, qual dom você tem e não aprimora ou usa para si e para o outro? Se eu exercer o meu dom, serei capaz de motivar alguém a também exercer o seu? Nunca saberei se não começar. Os escritores que citei e muitos outros que li não foram capazes de me motivar ainda, portanto, julgo que pensar em motivar alguém seja presunção minha e algo que não cabe no atual momento da minha história, mas foi um pensamento que me ocorreu enquanto escrevo. Será que motivar pessoas foi algo que eles também pensaram?
Se o que quero escrevendo é colocar minhas ideias em dia e entender melhor quem sou, dando respostas às perguntas de uma vida, sinto me informar que esse início está tornando as coisas muito mais confusas. E tal confusão me faz pensar que tenho muito trabalho pela frente comigo mesma, então, talvez seja improdutivo pensar no outro agora. Sendo assim, a primeira resposta elaborada é: eu sou minha primeira missão, é a mim que devo atingir com o que escrevo e me motivar a escrever mais. Serei como um hamster numa roda, fazendo perguntas e criando respostas. Quem sabe assim, um dia, alguém encontre tudo isso e ache sentido no meu trabalho.
A conclusão de tudo o que escrevi até aqui é a de que sim, errei muito ao não escrever durante toda a minha vida. Não, não pretendo me lamentar sobre isso. Sim, quero agora exercer e aprimorar o meu dom, mas não sei se tentarei escrever algo tão grandioso quanto o que já li na minha vida. Até porque, no meu entender, essa é uma tarefa que se decide fazer, pelo menos não conscientemente. Ela vai acontecendo e nos surpreendendo em primeiro lugar, depois, aos poucos, vai surpreendendo aos outros.