quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Uma mulher sempre sabe o que fazer.


Uma mulher sempre sabe o que fazer, foi o que ouvi uma vez de um rapaz que estava logo atrás de mim na fila do self service. Foi na hora do almoço no trabalho, que era sempre corrido quando recebíamos alunos. Trabalhei numa das Escolas de Governo, em Brasília. A fila andava depressa e o rapaz não tirava os olhos da cuba de arroz logo a nossa frente. O arroz estava mexido, a cuba já pela metade, e um pouco embolorado. Não havia a esperança de que um arroz novo e quentinho viesse da cozinha até que chegasse a nossa vez de servir os pratos. Foi então que eu cheguei à cuba, peguei a colher de servir, amassei as bolas de arroz, mexi de um lado para o outro misturando bem e deixei tudo com uma cara mais amigável. Foi quando ouvi, num tom de alívio, a frase que lembro toda vez que me encontro em situações difíceis: uma mulher sempre sabe o que fazer.

Hoje, passados muitos anos desde que isso aconteceu, talvez já quase duas décadas, tenho um questionamento constante que me leva quase a discordar de tal afirmação, pois não me sinto tão capaz assim de encontrar respostas ou soluções para todos os problemas da vida. Com certeza sou uma mulher, mas não tenho super-poderes, não tenho o dom de saber o que devo fazer. Na verdade, sequer tenho certeza se o que faço é certo. A certeza que tenho é que errei muito e reconheço as consequências da minha diversificada lista de erros nos dias que vivo hoje.

Estou me lamentando? Claro que não. Estou apenas fazendo uma revisão da minha história, afinal, já estou nos meados dos meus cinquentas anos e todos os dias me deparo com o maroto pensamento de quanto tempo ainda tenho para viver. Não me perguntava isso aos trinta ou aos quarenta anos. Essas foram décadas que passaram sem uma percepção próxima da extinção. Os cinquenta por sua vez trouxeram essa novidade, mas isso não é motivo para angústia ou tristeza. Na verdade, é motivo de contemplação e de otimização do tempo de vida que ainda me resta. Afinal, em qualquer tempo da vida é preciso viver da melhor forma que podemos. É preciso aproveitar ao máximo e fazer paradas estratégicas que evitem derrapagens ou paradas muito longas da nossa história, aquela história que contamos de nós para nós mesmos ou para quem nos rodeia. A história de vitórias, superações e boas recordações, ou a história das perdas, dos deslizes e das decepções que julgamos no levaram a um ocaso menos feliz.

Voltando ao dia de hoje, 26 de janeiro de 2022, enquanto ainda construo uma outra lista, a das lembranças que quem me rodeia terá de mim, quando eu ainda estiver nos porta-retratos da família, como uma lembrança prestes a desaparecer, pela decisão de alguém que guardará tal retrato num álbum e tal álbum numa caixa, num canto escuro de um armário. No dia de hoje, considero o que posso fazer para ser a mulher que sempre sabe o que fazer e que não desperdice os dias de vida que ainda tem, que espero sejam muitos, que sejam longos e que, acima de tudo, sejam felizes.

Sobre dons desperdiçados

Ultimamente, tenho considerado muito a respeito dos erros que cometi na vida, não para me lamentar sobre eles, mas para nortear melhor a vid...